Reconhece-se a vocação quando se encara os problemas e obstáculos como desafios, e não como um estorvo.

Vejamos um exemplo na música. Tomemos dois tecladistas. Ambos vão tocar uma música nova. A música tem algumas seqüências e alguns acordes incomuns, mas que dão charme à melodia e à harmonia.

Um tecladista olha aquele solo complexo e aquele A#m^b5 e pensa: "Credo, que música difícil! Vou evitar esta música, pular essa parte ou simplificá-lá!" Se aprende a tocá-la, é por obrigação, e toca contra a vontade, produzindo um mau resultado, para si e para os ouvintes.

O outro tecladista olha o mesmo solo e o mesmo acorde e diz: "Nossa, que música legal! Que charme essa música tem! Quero treiná-la até conseguir tocá-la fielmente! Isto para mim é um desafio!". Este tem vocação para a música, não só para o instrumento.

Isto serve para qualquer outra área. Um programador que vê o problema do cliente como um desafio não vai sossegar enquanto não vir o cliente satisfeito. Por mais que seja cansativo programar, por mais chatos que sejam os bugs a enfrentar, nada disso importa frente ao desafio de ver o problema solucionado. O que trabalha por obrigação vê o problema do cliente como uma pedra no sapato, e cria uma solução preguiçosa, frágil, sem amor no que faz; vê as dificuldades da programação maiores que o resultado e trabalha reclamando da vida.

Identifique a sua vocação. Em que área você encara os problemas como um desafio estimulante, algo pelo que valha a pena lutar, algo que supere as dificuldades inerentes da profissão? Sempre se tem uma área assim; todos nós recebemos talentos de Deus. Não tenha medo de assumir sua vocação, mesmo que essa área não pareça interessante financeiramente. Perceba que sempre tem alguém que se dá bem nessa área. Por quê? Porque amam o que fazem, e por isso fazem bem feito. O sustento vem como recompensa. Fazer algo contra a vontade, apenas por causa de dinheiro, não traz um bom resultado, nem para você, nem para o cliente.

Recentemente assisti a um filme chamado Conversando com Deus (Conversations with God), baseado num livro em que o autor relata sua experiência pessoal com Deus. Numa dessas conversas, Deus fala sobre isso. "Por que perder tempo com o sustento? Eu dou o sustento. Aproveite seu tempo com o que você gosta de fazer! O tempo na terra é tão curto!..."

Foi uma forma diferente de interpretar a passagem "Quem quer salvar a sua vida (financeiramente), perde-la-á (gastará seu tempo com o que não lhe interessa); mas quem perder a sua vida (financeiramente) por amor a mim (presente no próximo), este a salvará (pois você estará aproveitando a vida com satisfação abundante sentindo-se útil a alguém e realizado com o seu trabalho)".